Grandes Projetos: "desenvolvimento e progresso”.
Amazônia torna-se uma
região-programa
A partir da década de 1950 houve,
no Brasil, a consciência de que o Pará e a Amazônia não deviam mais ficar
isolados do resto do país. A Amazônia, por sua enorme riqueza natural,
começou a ser cobiçada por alguns países, que defendiam a tese de que a
Amazônia era um patrimônio extraordinário, não explorado, e que devia ser
internacionalizada: desta forma, um conjunto de países poderia supostamente
gerenciar os recursos naturais da Amazônia. É assim que o Governo Federal teve
a idéia de implantar um desenvolvimento planejado para a região.
Para desenvolver a Amazônia, marcar a presença do governo federal na região e protegê-la da cobiça internacional, foi criada a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVA), em 1954. Foi a primeira experiência no país de um plano governamental visando a valorização de uma região. Com o Primeiro Plano Qüinqüenal (1955-59), o governo federal queria constituir uma economia rentável e estável na região e converter a população extrativista numa sociedade assentada em uma economia de base agrícola. O governo não cogitou, de fato, de explorar a riqueza da floresta e dos rios da Amazônia, embora este propósito estivesse no Primeiro Plano Qüinqüenal:
Para desenvolver a Amazônia, marcar a presença do governo federal na região e protegê-la da cobiça internacional, foi criada a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVA), em 1954. Foi a primeira experiência no país de um plano governamental visando a valorização de uma região. Com o Primeiro Plano Qüinqüenal (1955-59), o governo federal queria constituir uma economia rentável e estável na região e converter a população extrativista numa sociedade assentada em uma economia de base agrícola. O governo não cogitou, de fato, de explorar a riqueza da floresta e dos rios da Amazônia, embora este propósito estivesse no Primeiro Plano Qüinqüenal:
1 – produção de alimentos, em uma
proporção pelo menos equivalente as suas necessidades de consumo;
2 – produção de matérias-primas e produtos alimentares necessários à economia nacional e que o país precisa importar;
3 – exploração das riquezas extrativistas e minerais;
4 – conversão da economia extrativista e comercial numa economia agrícola, industrial e pecuária;
5 – aperfeiçoamento dos transportes;
6 – elevação do nível de vida e da cultura política e técnica de sua população.
2 – produção de matérias-primas e produtos alimentares necessários à economia nacional e que o país precisa importar;
3 – exploração das riquezas extrativistas e minerais;
4 – conversão da economia extrativista e comercial numa economia agrícola, industrial e pecuária;
5 – aperfeiçoamento dos transportes;
6 – elevação do nível de vida e da cultura política e técnica de sua população.
O plano do governo federal
possuía de fato diversos equívocos. A maior riqueza da região conhecida na
época eram a floresta e os rios. Mas o plano visava dominar o meio de forma
agressiva, isto é, derrubar a floresta a fim de produzir a agricultura e a
pecuária, após a derrubada ou a queimada da mesma. Nesse período verifica-se o
desenvolvimento do setor madereiro que teve como conseqüência a derrubada de
grandes extenções de mata, sem qualquer preocupação com o reflorestamento. A
produção de matérias-primas estava voltada para serem exportadas, ou seja,
gerando lucros no exterior. De fato, o governo federal não aprendera a lidar
com a Amazônia.
Nesse período criaram-se as
universidades e centros de pesquisa científica como a Universidade Federal
do Pará - UFPA, a Faculdade de Ciências Agrárias do Pará - FCAP (atualmente UFRA)
e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Estado do Pará – EMBRAPA,
em Belém. Em Manaus foi criado o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA.
Os Grandes projetos
O Estado do Pará, pelo seu potencial
energético e mineral, passou a ser foco de atenção. No Pará houve instalação de
Grandes Projetos econômicos voltados para o mercado internacional ou destinados
à produção de insumos para indústrias localizadas em outras regiões do país.
A década de 1970 no Brasil irá
marcar um momento em que emerge no âmbito político e econômico brasileiro um
novo padrão de desenvolvimento baseado na ocupação territorial, comandado
pelo Estado e pelos Grandes Projetos, postos em ação no âmbito dos Planos
Nacionais de Desenvolvimento (PNDs). Isto surge inicialmente no governo do
general Emilio Garrastazu Médici(1970-1974).
A estratégia de desenvolvimento
do governo Médici, que buscava a recuperação econômica e a superação do
subdesenvolvimento do Brasil, pretendia realizar isto através de uma política
nacional que visava transformar o país em “nação desenvolvida” dentro de uma
geração.
Texto e Contexto
“O objetivo síntese da política
nacional é o ingresso do Brasil, até o fim do século, no mundo desenvolvido.
Para isso, construir-se-á, no País, uma sociedade efetivamente desenvolvida,
democrática e soberana, assegurando-se, assim, a viabilidade econômica, social
e política do Brasil como grande potência.”
(SUDAM. Amazônia:
política e estratégia de ocupação e desenvolvimento. Política Nacional.
Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1973. p. 5.)
Médici foi sucedido, em 1974,
pelo general Ernesto Geisel (1908-1996). O presidente Geisel, o
quarto presidente da República (1974-1979) do ciclo militar, governou com
dificuldades econômicas devido à crise mundial do petróleo.
Porém, Geisel optou por ampliar
os programas de modernização econômica para consolidar a base
industrial, energética e tecnológica do país.
Neste contexto, um conjunto de
medidas começou a transformar a economia regional a fim de fomentar o tão
pretendido desenvolvimento regional na Amazônia. Cria-se a Superintendência
de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em substituição à SPVEA, e o Banco
da Amazônia (BASA), em substituição ao antigo Banco de Crédito da
Amazônia. Estruturas estas subordinadas diretamente à tecnocracia dos
Ministérios e à ação do poder central. Com isto pretendia-se afastar a
influência do poder local no tocante à tomada de decisões; isto mais um dos
exemplos do autoritarismo do regime militar imposto à região.
A ação de desenvolvimento
econômico para a região amazônica adotada pelo governo Geisel e consolidada no II
Plano Nacional de Desenvolvimento e no II Plano de Desenvolvimento da
Amazôniadestacou ênfases ao processo de desenvolvimento e modernização da
economia regional, através da estrutura industrial juntamente com a preocupação
da exploração dos recursos naturais. A finalidade desses planos era
intensificar a integração da Amazônia na economia do país e promover a ocupação
territorial e a elevação do nível de segurança na área por meio do alargamento
da fronteira econômica e, com isto, realizar a manutenção de altas taxas de crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB).
De fato, a Amazônia era vista
como uma região marcada negativamente pelo “rudimentarismo” de suas forças
produtivas que a deixavam “à margem da evolução econômica” do país.
Texto e Contexto
Durante três séculos e meio, o
eixo econômico da Amazônia se desenvolve em torno do rio, em cujas margens se
instalaram as cidades e as comunidades rurais. Durante três séculos e meio, com
a mentalidade dominante voltada quase exclusivamente para o extrativismo
vegetal, dependendo tradicionalmente da coleta da borracha, da castanha, das
madeiras, das peles de animais silvestres, a região se manteve à margem da
evolução econômica brasileira.
(SUDAM. A Amazônia e seus problemas. Economia. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1972. p. 16.)
(SUDAM. A Amazônia e seus problemas. Economia. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1972. p. 16.)
Os Planos de Desenvolvimento para
a região amazônica faziam parte da ideologia da ditadura militar no Brasil; uma
“ideologia do desenvolvimento”. Traçaram e sustentaram as estratégias e os
planos de crescimento nacional e regional marcado por uma euforia
desenvolvimentista para preservar e legitimar a própria ditadura. Desempenharam
um papel essencial na cantata “Brasil Grande”, “Brasil Potência”, e pela busca
da manutenção do “Milagre Brasileiro”.
Em termos de realização de
Grandes Projetos, os principais empreendimentos produtivos que se instalaram na
região amazônica foram estes: a Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT),
sobre o rio Tocantins; o da Mineração Rio do Norte (MRN),
de exploração de bauxita metalúrgica, a noroeste do Estado, no município de
Oriximiná; o da Albrás e Alunorte de produção de alumínio e
alumina, respectivamente, localizados nas proximidades de Belém, no município
de Barcarena; o Projeto de Ferro Carajás (PFC), no sudeste do
Estado, no município de Parauapebas.
Algumas informações:
1 – bauxita: esta rocha é a
matéria-prima para a produção de alumínio (ela é o minério que dá origem ao
alumínio);
2 – celulose: matéria-prima retirada da madeira e usada na produção de papel;
3 – caulim: argila necessária para a fabricação de papel;
4 – bauxita refratária: utilizada para tijolos de alto-fornos que funcionam com temperatura superior a 1 500 graus, onde o tijolo comum não resistiria;
5 – alumina: obtida da bauxita; é a base da fabricação do alumínio;
6 – alumínio: metal utilizado na fabricação de panelas, aviões, estruturas metálicas, janelas, etc.;
7 – silício metálico: amplamente utilizado em eletrônica (chips de computadores, etc.);
8 – minério de ferro: rocha que contem uma grande proporção de ferro;
9 – ferro-gusa: ferro simples;
10 – ferro-liga: ferro aliado ao manganês; fica mais resistente que o ferro;
11 – cobre: metal muito utilizado em material elétrico;
12 – manganês: metal utilizado em ligas metálicas;
2 – celulose: matéria-prima retirada da madeira e usada na produção de papel;
3 – caulim: argila necessária para a fabricação de papel;
4 – bauxita refratária: utilizada para tijolos de alto-fornos que funcionam com temperatura superior a 1 500 graus, onde o tijolo comum não resistiria;
5 – alumina: obtida da bauxita; é a base da fabricação do alumínio;
6 – alumínio: metal utilizado na fabricação de panelas, aviões, estruturas metálicas, janelas, etc.;
7 – silício metálico: amplamente utilizado em eletrônica (chips de computadores, etc.);
8 – minério de ferro: rocha que contem uma grande proporção de ferro;
9 – ferro-gusa: ferro simples;
10 – ferro-liga: ferro aliado ao manganês; fica mais resistente que o ferro;
11 – cobre: metal muito utilizado em material elétrico;
12 – manganês: metal utilizado em ligas metálicas;
A Amazônia brasileira se insere
no contexto da ideologia de desenvolvimento regional e segurança nacional do
regime militar. Era um período marcado pelo autoritarismo, repressão,
perseguição policial e militar, supressão de direitos constitucionais e da
liberdade de expressão nos meios de comunicação mediante a adoção da censura
prévia. Porém, contraditoriamente, foi um momento também marcado por uma
euforia desenvolvimentista.
A construção da rodovia
Transamazônica e a implantação de Grandes Projetos industriais e
infra-estruturais, como a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, tinham de certa forma
um estreito relacionamento; faziam parte da estratégia geopolítica militar para
a região. Isto representou um processo expansionista profundamente idealizado
que buscava atingir o objetivo de ocupar os “espaços vazios” da
região amazônica. As conseqüências sobre o meio ambiente, a rica biodiversidade
regional e seus recursos naturais, e sobre o homem, em uma região de povos e
culturas diversificadas, eram vistas como parte de um projeto maior.
Projeto ALBRAS-ALUNORTE
O Projeto Albras/Alunorte
localiza-se no município de Barcarena e está voltado para a produção
industrial de alumínio a partir das jazidas de bauxita do rio
Trombetas (município de Oriximiná, Estado do Pará).
A origem dos projetos está na
descoberta da jazida de bauxita no rio Trombetas, entre as melhores do mundo. O
minério encontrava-se quase na superfície. Era retirada do estéril (as rochas
sem valor) com uma “drag-line”, máquina que retira 8 milhões de toneladas por
ano. O início da implantação da ALBRÁS/ALUNORTE foi dirigida pela Companhia
Vale do Rio Doce (CVRD) que comunicou ao governo do Pará sobre
o projeto destinado à produção de alumina e alumínio tendo como sócios
empresários japoneses que investiram no projeto.
A Bauxita.
A Alumina.
Lingotes de Alumínio na Albras.
O projeto Albras/Alunorte, criado
durante o período do regime militar, inserido em um contexto de busca pelo
desejado desenvolvimento regional, crescimento econômico e segurança nacional,
gerou (e gera) graves danos ao meio ambiente e a população existente
nas proximidades deste grande empreendimento industrial.
Na região de influência do
Projeto Albrás-Alunorte, nas redondezas do município de Barcarena, ocorre com
freqüência danos ao meio ambiente, como os casos de poluição do rio
Murucupi, situado no município de Barcarena, que geraram envenenamento em suas
águas, em decorrência de poluição provocada pela Alunorte, o que atingiu
diretamente o meio ambiente e pescadores e ribeirinhos e suas relações de
trabalho, a pesca, já que provocou a morte de várias espécies de peixes no rio.
Área de recomposicao de rejeito
da bauxita da Alunorte Na época de chuvas intensas no Pará, é comum está área
transbordar e provocar poluição em sua área de influência (ver em Texto
Complementar).
Projeto Ferro-Carajás.
Projeto Ferro-Carajás.
A Serra dos Carajás, serra do
estado do Pará, ficou logo famosa pela imensa riqueza mineral, principalmente
ferro, cujo volume foi cubado em 5.000.000 de toneladas. Formada de rochas
cristalinas, corresponde a um planalto residual que tem expressão no setor
meridional dos estados do Amazonas e Pará. Os planaltos residuais da Amazônia
correspondem a um agrupamento de relevos interpenetrados pela superfície
pediplanada da depressão amazônica. Em 1967, ricas jazidas de ferro foram
descobertas na serra dos Carajás pela Companhia Meridional de Mineração,
subsidiária da United States Steel Corporation. A importância da descoberta
originou o interesse da participação da Companhia Vale do Rio Doce, tendo sido
criada, em 1970, a Amazônia Mineração S/A para desenvolver o Projeto
Carajás. Outras reservas foram descobertas: cobre, manganês, bauxita, níquel,
estanho e ouro. Na região, logo se deu muitos conflitos pela posse de terras.
Jornal O Globo, 07/07/1974.
O Projeto Ferro-Carajás
corresponde a exploração da região, localizada no Brasil, muito significativa
em termos de riquezas minerais; uma das mais importante do mundo. Abrange o
sudoeste do Pará, o norte de Tocantins e o oeste do Maranhão. A área tem
potencial hidrelétrico, amplas florestas e condições que permitem o
reflorestamento para produção de celulose e carvão vegetal. É cortada pelos
rios Tocantins, Araguaia e Xingu. Foi em 1967, ano em que foram descobertas
suas riquezas minerais, que a região se tornou extremamente valiosa. Essas
riquezas, estimadas em aproximadamente 20 bilhões de toneladas, consistem em
jazidas de cobre, estanho, ouro, bauxita, manganês e níquel, e são passíveis de
exploração por meio de tecnologia simples, o que significa baratear o custo.
O minério de ferro, extraído na
mina da Serra de Carajás, era então transportado para o Maranhão. Lá fazia-se
os lingotes de ferro, que são exportados pelo porto de Itaqui. E o ferro
ocupava, na época do início da implantação do projeto, o terceiro lugar na
pauta dos produtos de exportação do Brasil. Daí vem a importância de Carajás e
da sua Estrada de Ferro Carajás; esta última construída na década de 80,
uma obra de 900 km, através da floresta.
Projeto Ferro Carajás na
Serra dos Carajás.
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí
(UHT)
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí
(UHT) foi construída pela Eletronorte no rio Tocantins, na mesorregião do
Sudeste Paraense, a treze quilômetros de Tucuruí e a cerca de 350 quilômetros
de Belém.
Rio Tocantins antes da formação
do lago (16/06/1984). Imagem do Satélite Landsat.
Rio Tocantins após a formação do
lago (22/06/1992). Imagem do Satélite Landsat.
Texto e Contexto
O Govêrno Federal procurando
evitar e superar todos os pontos de estrangulamento que retardam o
desenvolvimento harmônico da área amazônica envidará, no triênio 1972/74, todos
os esforços no sentido de dotar o setor Energia de um complexo compatível com as
reais necessidades.
(SUDAM. Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-1974). Capítulo 4, Serviços Básicos. Belém-Pará, 1971. p. 65.)
(SUDAM. Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-1974). Capítulo 4, Serviços Básicos. Belém-Pará, 1971. p. 65.)
O objetivo de construir a Usina
de Tucuruí foi para gerar energia elétrica para atender os projetos de
extração mineral e a industrialização, principalmente, ao Distrito
Industrial de Alumínio em Barcarena e ao Projeto de Ferro em Carajás.
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí,
Tucuruí, Pará.
A Barragem da UHE de Tucuruí no
Rio Tocantins. Imagem de satélite do Google Earth.
Texto e Contexto
A construção dessa usina
permitirá a criação de um pólo industrial com base na metalurgia do alumínio a
partir da bauxita do rio Trombetas. Marginalmente, contribuirá para a
exploração do minério de ferro da Serra dos Carajás, não somente nos aspectos
relacionados à lavra, terminais e siderurgia, como, especialmente, no tocante
ao transporte ferroviário, com a eletrificação da ferrovia ligando a mina a
Itaqui, no Maranhão. (SUDAM. II Plano Nacional de Desenvolvimento;
programa de ação do governo para a Amazônia (1975-1979). Capítulo 7, Ação
programada do Governo Federal para a Amazônia. Belém, 1976. p. 75.)
A construção de grandes
empreendimentos hidrelétricos provoca muitos impactos sociais e ambientais
negativos. Pode gerar a desaparição de espécies devido ao alagamento de
florestas.
Movimentos migratórios de peixes
podem ser interrompidos, gerando o desaparecimento de algumas espécies, o que
pode atingir a relação de trabalho da população local.
Um dos impactos sociais mais
negativos diz respeito ao remanejamento das populações atingidas pelo
alagamento causado pelos reservatórios de barragens, pois pode implicar em
perda de qualidade de vida e em ameaças à existência de vários grupos sociais.
As sociedades indígenas Parakanã, Asurini (ambos
grupos Tupi) e os chamados “Gaviões da Montanha” (um grupo local dos Parkatêjê,
Jê-Timbira) foram diretamente afetados com a construção e operação da Usina
Hidrelétrica de Tucuruí.
Esses grupos indígenas perderam
parte de suas terras devido o alagamento das mesmas pelas águas do
reservatório da Usina de Tucuruí. As terras desses grupos indígenas passaram a
ser invadidas com freqüência, principalmente por madereiros que realizam a
retirada ilegal de madeira e provocam queimadas nas florestas.
A população da região de Tucuruí
também foi afetada devido ao enchimento do reservatório da Usina de Tucuruí,
sendo que muitas foram remanejadas de suas casas, aproximadamente 1.500
famílias foram desabrigadas.
Arca - boletim do movimento dos
desapropriados pela Eletronorte, 1983.
Aspectos administrativos e
econômicos dos grandes projetos
Todos os grandes projetos foram decididos
fora do Pará, a nível nacional (governo federal) e internacional (empresas
multinacionais de mineração). A sociedade local pouco pôde interferir nas
negociações.
Todos tratam de produção
extrativa de minerais e de produção de energia elétrica e, no caso da bauxita,
da primeira transformação do minério. Esses projetos todos visavam à
exportação. Não há industria de transformação dos minérios em produtos
manufaturados (de consumo). Não há, no caso dos minerais, empreendimento que
não seja do interesse de outros países: o Pará continua a importar produtos
manufaturados de ferro e alumínio. Foi o mesmo no caso da borracha e da
madeira.
Todos utilizam tecnologia que faz
uso intensivo de capital e poupa mão-de-obra. Assim, geram poucos empregos.
Os países estrangeiros dominam o
mercado da produção, de compra e venda dos minérios, através de empresas
multinacionais que operam na região no mercado internacional, controlando os
preços e a própria produção.
Finalmente, parecem poucas
vantagens para o Estado do Pará e os municípios da região.
Aspectos humanos dos grandes
projetos
Praticamente todos os projetos
provocaram uma grande mobilização de mão-de-obra durante a sua implantação.
Contudo, economizaram trabalhadores na fase de funcionamento. Na fase de
negociação, foram previstos 100.000 empregos na mineração e na metalurgia, mas,
após a implantação foram gerados somente 2.000 pela Alunorte e Albrás e 8.000
pelo Projeto Ferro-Carajás.
Alguns projetos tiveram efeitos piores para as famílias que antes viviam em Barcarena, onde foram construídas as fábricas dos projetos metalúrgicos e na região que foi inundada pelo lago da represa de Tucuruí, provocando a desapropriação de cerca de 10.000 famílias de pequenos agricultores e o deslocamento de povos indígenas, como os Pacuruí e os Parakanã.
Alguns projetos tiveram efeitos piores para as famílias que antes viviam em Barcarena, onde foram construídas as fábricas dos projetos metalúrgicos e na região que foi inundada pelo lago da represa de Tucuruí, provocando a desapropriação de cerca de 10.000 famílias de pequenos agricultores e o deslocamento de povos indígenas, como os Pacuruí e os Parakanã.
O surto da garimpagem
Até os anos 60, menos de 10.000
homens garimpavam no Pará. O número subiu até 150.000 nos anos 80 (a metade do
país), e cerca de 400.000 no começo da década de 90. Foi a corrida de garimpeiros
vindos de muitos Estados pelas rodovias.
Desde o século XVI, os
portugueses tiveram grande interesse em encontrar ouro no Brasil, para isso
organizando-se as entradas e bandeiras. A produção aurífera expandiu-se até
1760, quando a diminuição dos veios, a baixa tecnologia e o contrabando
provocaram uma contínua decadência.
No século XIX novas tecnologias
permitiram a retomada, mais modesta, da produção e no século XX descobriram-se
novas reservas auríferas em outros estados, como a de Serra Pelada, no Pará.
Foi início dos anos 80 correu a
notícia de ouro em Serra Pelada. Caminhões de paus-de-arara chegavam à
região, principalmente do sudoeste do Maranhão, uma das regiões mais miseráveis
do país. O Pará chegou a possuir mais de 800 garimpos em atividade. Em termos
numéricos o Vale do Tapajós detinha a maior parte. Lá os garimpos eram
flutuantes, isto é, feitos sobre balsas.
Serra Pelada, em 1982. São 80.000
garimpeiros com sacos de terra para extrair o ouro.
A extração de ouro é feita
através de balsas ancoradas no meios dos rios e que servem de base para as
máquinas de sucção. Estas extraem o cascalho do fundo dos rios. O trabalhador
principal aí é o mergulhador. Surdez, morte por afogamento são fatos
corriqueiros. Mas isto é inexpressivo se comparado com a contaminação por
mercúrio.
De fato, o grande surto da
garimpagem trouxe grandes conseqüências negativas para a região. O uso de
mercúrio no tratamento do ouro criou uma situação nunca vivida pela região
em termos depoluição química. O mercúrio causa danos renais e sobretudo
neurológicos. A maioria das pessoas lesionadas por mercúrio ficavam
definitivamente inválidas. A lesão neurológica é irreversível. Os peões
“brabos” eram comumente usados no serviço de tratamento do ouro e, quando
adoecem, são despedidos e quase sempre retornam a seu lugar de origem. As
espécies animais expostas ao mercúrio produzem crias com deformidades
congênitas. Os peixes de regiões contaminadas não podem ser
consumidos.
Texto Complementar
Mortandade de peixes em Barcarena
deixa em alerta os órgãos ambientais
O Liberal, 08/04/2003, caderno
Atualidades.
O pescador Edval Moraes da Silva,
52, ergue do rio um tucunaré de quase três quilos. Em outra situação a presa
daria orgulho à pescaria de qualquer ribeirinho do rio Murucupi, bairro do
Laranjal, Barcarena, há 136 quilômetros de Belém. Mas o peixe que Edval mostra
não lhe da orgulho, não caiu na rede nem na isca. Morreu asfixiado em um rio
que agoniza por um desastre ambiental. Desde sexta-feira 4, a maré tem trazido
e levado centenas de peixes mortos, principalmente tucunarés e acarás tinga,
para o rio Arrozal, onde o Murucupi desagua.
Não há certeza de quando o
fenômeno começou. Alguns moradores da área dizem que desde quinta-feira, 3, a
água do rio, antes cristalina, vem ganhando uma coloração marrom avermelhada.
Na cabeceira do rio estão localizados os esgotos da Vila dos Cabanos e da
fábrica de alumínio Alunorte. Antes ainda há um lixão a céu aberto que recebe
os rejeitos domésticos da cidade.
Sindicato dos Químicos encontra
tubulação poluindo rio Murucupi
O Liberal, 12/04/2003, Caderno
Atualidades.
Uma tubulação que sai da empresa
Alunorte e expele resíduos de cor avermelhada que escoam por uma estrada até
atingir a nascente do rio Murucupi foi decoberta ontem por integrantes do
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas do Município de Barcarena.
De acordo com o presidente do sindicato, Manoel Paiva, a tubulação sai de um
local próximo às baias de rejeitos da Alunorte, mas não passa pela “ala 82”,
local que trata os rejeitos químicos para garantir a redução de impactos
ambientais.
Os representantes do Sindicato
foram recebidos ontem mesmo pela gerência de meio ambiente da Alunorte, para a
qual foi apresentada a amostra dos rejeitos expelidos pela tubulação. A amostra
do material viscoso e de cor avermelhada com partículas sólidas foi coletada no
local por Paiva, que também é estudante do terceiro ano de Engenharia Ambiental
pela Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Segundo Paiva, a gerência
ambiental da Alunorte informou desconhecer a tubulação. “Eles se comprometeram
a investigar a origem da tubulação, analisar as amostras e nos apresentar os
resultados em uma reunião na próxima quarta-feira”, informou. Paiva também
disse estranhar o desconheicmento da empresa sobre a tubulação. “Se eles não conhecem,
há alguma falha muito grave no controle da emissão de rejeitos e dos impacotos
ambientais”, ressaltou.